A imagem artística extraída de uma peça de aço – ampliada milhares de vezes e capturada no microscópio eletrônico de varredura – rendeu ao técnico de laboratório do Centro de Tecnologias do Gás e Energias Renováveis (CTGAS-ER), do SENAI-RN, Demmys de Sousa, um dos prêmios internacionais mais prestigiados para a Metalografia no mundo: O International Metallographic Contest. 

 

O resultado foi divulgado na semana passada. E o reconhecimento, para Sousa, é descrito como “muito mais que um sonho”. “É um sonho? é. Mas é muito mais a concretização de tudo o que estudei, do que construí na minha área profissional, que ainda é um pouco desconhecida. Também é a concretização do trabalho no CTGAS-ER, o lugar onde me especializei em metalografia, onde recebo diversas peças para estudar e entender”, disse.

 

O prêmio

O International Metallographic Contest é concedido pela International Metallographic Society (IMS) e pela ASM International, a maior associação mundial de engenheiros, cientistas, técnicos, educadores e estudantes que atuam com foco em materiais. 

 

O prêmio foi criado em 1946 e engloba cinco categorias, abrangendo todos os campos da microscopia óptica e eletrônica. 

 

Sem divulgar separadamente os números por categoria, a presidente da competição, Ellen Rabenberg, afirma que foram recebidas 48 inscrições nesta edição, oriundas de 11 países – incluindo Brasil, Argélia, Índia, Indonésia, Itália, México, Nova Zelândia, Polônia, Eslovênia, Emirados Árabes Unidos e Estados Unidos. 

 

A imagem vencedora

 

 

Demmys de  Sousa conquistou o primeiro lugar na categoria Artistic Microscopy – Color (Microscopia Artística – Cor, em tradução literal), destinada a imagens artísticas. 

 

O trabalho que teve reconhecido foi produzido no Laboratório de Ensaio de Materiais do CTGAS-ER, em Natal.

 

“Hollow sphere of FeO and its dendritic structure” – Esfera oca de FeO (óxido de ferro) e sua estrutura dendrítica – é a fotografia de uma peça de aço exibida em detalhes por ele com a ajuda de um microscópio eletrônico de varredura, capaz de ampliar imagens em mais de 60 mil vezes.

 

A imagem que rendeu o registro e conquistou os olhos do júri tem origem na indústria do petróleo. É parte do aço que compõe uma unidade de bombeamento mecânico para extração petrolífera em terra, equipamento mais conhecido como “cavalo-de-pau”.

 

A oportunidade do clique

Sousa estava estudando uma falha na peça, quando viu a oportunidade do “clique”. 

 

A peça havia se rompido durante o uso da indústria e a missão que chegou ao laboratório foi analisar a origem da fratura e possíveis fatores que influenciaram o processo. 

 

“Foi aí que me deparei com essa esfera oca e sua bela estrutura dendrítica”, disse ele, que é engenheiro de materiais de formação. “Capturei a imagem em preto e branco no microscópio e, depois, colori parcialmente de azul para torná-la mais real”, explicou ainda.

 

Sousa ficou em primeiro lugar na categoria, que também destacou, na segunda e na terceira posições, respectivamente, imagens capturadas pelo Research Laboratories ìBatoryî, da Polônia, e pela Universidade de Connecticut, dos Estados Unidos. 

 

Outros reconhecimentos

 

 

O técnico de laboratório também ganhou Menção Honrosa no International Metallographic Contest na categoria Artistic Microscopy – Black & White (Microscopia Artística – em preto e branco).

 

O trabalho, desta vez, foi o Gray cast iron edge (Borda de ferro fundido cinzento, em tradução literal).

 

A fotografia foi obtida a partir de um pedaço de ferro fundido. 

 

Uma imagem semelhante, mas mais ampliada e colorida, conquistou, também neste mês, o terceiro lugar em outra competição: a Metallography Contest 2022, promovida pela instituição indiana Metallurgical Engineering.

 

 

A imagem chegou a ser comparada por internautas, no LinkedIn, a uma foto aérea dos meandros de um rio e até a dunas visualizadas em uma região de deserto. 

 

Demmys de Sousa atua há oito anos como técnico de laboratório do CTGAS-ER. 

 

“Ele encanta com o puro talento de conseguir, na aridez da rotina de trabalhar com metais, produzir imagens como essas”, diz o diretor do SENAI-RN, Rodrigo Mello.

 

“Enxergar brilho na tecnologia, trazer sentimento para algo tão seco, como é a análise de uma peça de metal, é talento puro do profissional. E ver esse talento reconhecido como o melhor do mundo é um caso inequívoco de que temos as pessoas certas no nosso time”, acrescenta.

 

 

A Metalografia

A Metalografia é a área que envolve a análise da microestrutura de diferentes ligas metálicas, como aço comum, inox, superligas de níquel e ferros fundidos. 

 

O procedimento é demandado por indústrias como as de petróleo, energia eólica, termelétricas e construção civil, para caracterização de materiais e análise, por exemplo, de possíveis fatores que podem influenciar a resistência de máquinas e equipamentos.

 

“Eu trabalho há oito anos no CTGAS-ER e entre as principais atividades que realizo estão a caracterização de materiais e a análise de falhas. A metalografia, para mim, virou uma paixão. É tentar entender cada vez mais microscopicamente como um material se comporta ou possíveis mudanças nas suas propriedades. É uma atividade apaixonante”.