‘Porto-Ilha’ do RN vira base para estudos de energia eólica do SENAI e mira expansão para apoio logístico ao setor no offshore

20/11/2023   18h18

Intenção, segundo consórcio Intersal, é pelo menos dobrar a área da ‘Ilha’, atualmente com 38 mil metros quadrados, para incorporar a movimentação também da atividade

 

O Porto-Ilha de Areia Branca, responsável pela exportação do sal à granel do Brasil e único terminal offshore do mundo criado para esse tipo de produto, virou base para estudos do SENAI do Rio Grande do Norte voltados às energias renováveis e já traçou planos de expansão para agregar uma área de apoio logístico à implantação de futuros parques eólicos no mar.

 

“Hoje, enxergamos uma grande possibilidade de o Porto ser apoio marítimo para o desenvolvimento da indústria eólica offshore na costa do Rio Grande do Norte”, diz o diretor executivo da Intersal, consórcio que assumiu a operação do terminal salineiro há um ano, Valmir Araújo.  

 

A intenção, segundo ele, é pelo menos dobrar a área da ‘Ilha’, atualmente com 38 mil metros quadrados, para incorporar a movimentação também da atividade. 

 

A perspectiva, já apresentada ao governo do estado, foi compartilhada com representantes de indústrias do estado e integrantes da primeira Missão do Reino Unido ao Rio Grande do Norte com foco em discussões sobre energia eólica offshore. 

 

A programação foi promovida no Porto-Ilha de Areia Branca pela Intersal, em parceria com o SENAI-RN. Projetos previstos e em curso na área foram detalhados aos participantes junto com um balanço das operações relacionadas à atividade salineira. 

 

A ideia, segundo Araújo, não é reduzir o espaço disponível ao armazenamento e escoamento do sal do estado – detentor de 95% da produção nacional do produto – mas implantar uma espécie de anexo à infraestrutura para atender, também, à demanda da nova indústria. 

 

A perspectiva, já apresentada ao governo do estado, foi compartilhada com representantes de indústrias do estado e integrantes da primeira Missão do Reino Unido ao Rio Grande do Norte com foco em discussões sobre energia eólica offshore

 

Projeto

 

O projeto é estimado na casa dos R$ 500 milhões e seria assinado pelo consórcio Intersal com o grupo americano Edison Chouest Offshore.

 

A estrutura, diz o diretor, seria complementar e não concorrente para o Porto-Indústria Verde que o governo do estado projeta entre os municípios de Caiçara do Norte e Galinhos. 

 

“O projeto que o governo desenvolve é de um porto onde vão ser construídas as estruturas, fabricados materiais. Nós, por outro lado, serviríamos como plataforma de instalação avançada onde o material chega e é armazenado, aguardando o momento certo de ir para o local de instalação”, observa. 

 

“O grande potencial eólico está ao nosso redor, a algumas horas de navegação, e dependendo das embarcações, é possível chegar bem mais rápido até ele. Também estamos próximos a Mossoró, que tem aeroporto, conexão com o resto do Brasil, e enxergamos que tudo isso facilita uma instalação portuária para desenvolver projetos e negócios no seu entorno”, argumenta Araújo.

 

Rodrigo Mello, diretor do SENAI-RN, e Valmir Araújo, diretor executivo da Intersal, em área do Porto-Ilha onde foi lançada a Bravo, tecnologia nacional inédita para o offshore, desenvolvida pelo ISI-ER e o ISI de Sistemas Embarcados em parceria com a Petrobras

 

Expansão

Os planos apresentados pela empresa envolvem a duplicação do Porto-Ilha e a aquisição de guindastes de 500 a 700 toneladas para movimentação de peças e de todo o material necessário à montagem das torres e fundações de futuros parques eólicos. Além do apoio logístico para cargas, a intenção seria oferecer instalações para hospedagem das equipes que atuarão nos projetos.

 

“Enxergamos nessa plataforma um grande potencial para que sejam estreitadas distâncias para o setor, visto as dificuldades que existem para a chegada dos materiais até alto mar e que nós estaríamos mais próximos das áreas de instalação dos empreendimentos”, explica ainda Araujo.

 

A 20km da costa de Areia Branca, o Porto, uma “ilha artificial” implantada há aproximadamente 50 anos no mar e, até hoje, único polo de exportação de sal a granel do Brasil, movimenta 2 milhões de toneladas do produto por ano.

 

No contexto da indústria de energia, a área tem sido utilizada como apoio para estudos do Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER) com foco no potencial eólico e em pesquisas ligadas a variáveis oceanográficas. 

 

O mar “azul turquesa” que envolve o terminal abriga, com esse objetivo, a BRAVO – Boia Remota de Avaliação de Ventos Offshore – tecnologia desenvolvida de forma inédita no Brasil pela Petrobras em parceria com o ISI-ER e o Instituto SENAI de Sistemas Embarcados. A área também foi escolhida como sede do parque eólico experimental que o SENAI quer implantar como sítio de testes para a indústria offshore. 

 

Potencial

O Rio Grande do Norte é o maior gerador de energia eólica em terra e tem cadastrados para o mar, além do projeto da instituição, nove complexos de geração de energia eólica. Todos os empreendimentos estão à espera de licenciamento do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). A expectativa do mercado é que os primeiros sejam implantados e entrem em operação até o ano 2030.

 

A potência somada nesses empreendimentos é de 17,84 Gigawatts (GW). O número corresponde a quase 10% do total previsto para o Brasil no offshore e a mais que o dobro da capacidade atualmente instalada nos parques terrestres do estado.

 

“Nós estamos, neste terminal, no centro da melhor área de produção de energia medida pelo Instituto SENAI de Inovação e entendemos que a perspectiva de transformação do Porto-Ilha em infraestrutura também de operação e manutenção da indústria eólica vem em muito incrementar o ambiente de atração de negócios para o Rio Grande do Norte”, diz o diretor do SENAI-RN e do Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER), Rodrigo Mello.

 

Rodrigo Mello, diretor do SENAI-RN e do ISI-ER: “Entendemos que a perspectiva de transformação do Porto-Ilha em infraestrutura também de operação e manutenção da indústria eólica vem em muito incrementar o ambiente de atração de negócios para o Rio Grande do Norte”

 

A visita ao Porto-Ilha contou com a participação da Cônsul do Reino Unido no Recife (PE), Larissa Bruscky, da gerente de Desenvolvimento de Negócios do Consulado Britânico no Rio de Janeiro, Carolina Silva, e do consultor britânico Leonard Taylor. Também integraram o grupo, além do diretor do SENAI-RN, o responsável técnico do Centro Internacional de Negócios (CIN) da Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte (FIERN), Luiz Henrique Guedes, e representantes de indústrias do estado.

 

Especialista britânico aponta desafios para a implantação dos futuros parques no mar

 

O consultor Leonard Taylor, que integrou a visita ao Porto-Ilha na primeira Missão do Reino Unido ao Rio Grande do Norte com foco em discussões sobre energia eólica offshore, destacou que “o estado tem grande potencial para a atividade e que infraestruturas como a proposta para Areia Branca são importantes para atender as demandas de instalação e acesso rápido dos futuros parques de energia”. 

 

Ele também pontuou desafios para a implantação do setor no Brasil, incluindo comunicação e engajamento dos stakeholders. “É preciso garantir que a comunicação e a cadeia de suprimentos estejam constantemente em desenvolvimento, com cada um dos elos entendendo a responsabilidade que tem dentro desse projeto inovador”, disse.

 

Em palestra no “Encontro Brasil-Reino Unido – Oportunidades para a cadeia de energia eólica offshore”, realizado pelo Consulado britânico, em parceria com o SENAI-RN, em Natal, na Casa da Indústria, Taylor já havia chamado a atenção na semana passada para desafios logísticos relacionados à atividade. “É preciso estabelecer a logística, o transporte e a infraestrutura para apoiar a cadeia de suprimentos”, apresentou ele.

 

O consultor citou ainda questões como a necessidade de preparação de mão de obra, observando que “a transição da força de trabalho leva tempo, assim como a capacidade de entrega”.

 

Em passagem pelo RN, o consultor britânico Leonard Taylor (à esquerda), citou desafios logísticas e questões como a necessidade de preparação de mão de obra para o offshore, observando que “a transição da força de trabalho leva tempo, assim como a capacidade de entrega”

 

No Reino Unido, ele integrou o Departamento de Negócios e Comércio do governo britânico como especialista do setor e atualmente atua como consultor. “O grande desafio do Brasil vai ser fazer tudo o que se tem estudado para fazer. Transformar isso em prática”, ressaltou Taylor.

 

“O país já tem a teoria montada, já tem elementos de infraestrutura, mas só ao fazer o primeiro demonstrativo vai conseguir enxergar problemas que nem sabia que poderiam existir. E daí vem o aprendizado de como realmente fazer. Há muito mais elementos envolvidos em um parque eólico offshore do que somente turbinas”. 

 

Cooperação

O Reino Unido é líder do setor de energia eólica offshore na Europa e sede do desenvolvimento do maior complexo eólico offshore do mundo. A geração da ‘energia dos ventos’ com turbinas instaladas no mar e a cadeia produtiva em torno dessa indústria existem há aproximadamente 10 anos na região – enquanto no Brasil estão em fase de estruturação. 

 

Os primeiros empreendimentos previstos para a costa do país esperam licenciamento. Parte deles é prevista para o Rio Grande do Norte, estado que já lidera nacionalmente a geração eólica em terra. 

 

“Existem muitas coisas em que o Rio Grande do Norte já está avançado, principalmente na parte da inovação, que é liderada pelo SENAI, mas ainda existem desafios, como a questão da regulação e de criar um ecossistema para isso”, disse, em Natal, a gerente de Desenvolvimento de Negócios do Consulado Britânico no Rio de Janeiro, Carolina Silva.

 

A cônsul do Reino Unido no Recife (PE), Larissa Bruscky, avalia, por sua vez, que “para qualquer avanço no setor, é preciso haver muita cooperação”. “Eu acho que é o principal ponto, essa troca de experiência”, observa ela. 

 

A visita ao Porto-Ilha contou com a participação da Cônsul do Reino Unido no Recife (PE), Larissa Bruscky, da gerente de Desenvolvimento de Negócios do Consulado Britânico no Rio de Janeiro, Carolina Silva, na imagem, com Rodrigo Mello, diretor do SENAI-RN

 

“O Reino Unido é muito forte em tecnologia e inovação e já está à frente em eólica offshore há alguns anos, então tem muito o que contribuir no que diz respeito a quais foram os desafios enfrentados, os caminhos seguidos, em que momento é preciso começar, por exemplo, a capacitação da mão de obra. Esperamos que essa parceria continue se fortalecendo”.

 

O Encontro Brasil-Reino Unido foi um dos desdobramentos da Missão internacional que a Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte (FIERN) e o SENAI-RN lideraram em maio deste ano, com o apoio da Embaixada do Reino Unido e do Consulado no Recife. 

 

Iniciada em Manchester e encerrada em Londres, a Missão teve como objetivo conhecer, in loco, a operação da indústria da energia eólica no Reino Unido, prospectar oportunidades de negócios para o estado e mostrar o potencial brasileiro e o potiguar, na área, de olho em possíveis parcerias com empresas e instituições britânicas.

 

“Esse encontro foi mais um passo importante dessa parceria. O setor de energias renováveis é extremamente relevante e prioritário para o governo britânico, muito no que diz respeito a como a gente consegue colaborar para que o Brasil também avance nesse setor, para que a gente consiga colher frutos no mundo todo na questão das mudanças climáticas e de como mitigar esses efeitos. A gente só vai conseguir isso cooperando”, frisou Bruscky.

 

A programação do Encontro também incluiu uma vista aos laboratórios do Hub de Inovação e Tecnologia do SENAI-RN, complexo sedia o Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER) e os Centros de formação profissional e serviços do SENAI-RN em Natal.

 

 

Texto e fotos: Renata Moura

Skip to content