Mulheres concluem capacitação do SENAI-RN e Elera Renováveis para atuar em ocupações da construção predominantemente masculinas

6/06/2022   12h05

Alcileia Maria da Silva, de 41 anos, na formatura do curso de Armador/a de ferro: “O que veio na minha cabeça foi uma oportunidade. E eu fui para cima e agarrei”.

 

 

Em Parelhas, município potiguar a 232 km de Natal, Alcileia Maria da Silva, de 41 anos, vai pendurar na parede de casa um diploma que, até o início de 2022, jamais havia imaginado buscar: o de qualificação profissional como “Armadora de Ferro”.

 

“Eu já fiz curso de costura, de corte de vestuário, de pizzaiolo e de pequenas delícias”, lista ela. “O de Armador de Ferro minha irmã ouviu no rádio que ia ter e eu não pensei duas vezes”.

 

Léia, como é mais conhecida, se tornou a primeira mulher a receber diploma nessa ocupação – dentro de um projeto desenvolvido pela Elera Renováveis em conjunto com o Centro de Tecnologias do Gás e Energias Renováveis (CTGAS-ER), do SENAI-RN.

 

A iniciativa teve como objetivo aumentar, via qualificação, as chances de emprego da população do município, sede do novo complexo eólico que a companhia vai erguer no Rio Grande do Norte.

 

O programa incentivou a participação também de mulheres, em um contexto em que, tanto no setor de energia quanto na construção, homens ainda predominam na força de trabalho.

 

Profissionalização

“Nós estamos comprometidos com o respeito a todas as expressões da diversidade, e nossa atuação no tema se concentra em quatro grupos, sendo um deles as mulheres. Por isso, buscamos promover a igualdade de oportunidades visando a profissionalização e a inserção da mulher no mercado de trabalho”, ressalta a Elera.

 

Os cursos promovidos por meio do programa formaram um total de 70 profissionais, incluindo 38 armadores de ferro e 32 pedreiros de alvenaria.

 

Entre as mulheres selecionadas para compor as turmas, Léia e Lucicleia de Lima Dantas concluíram a capacitação e, junto com os demais colegas, receberam diploma na última quarta (1º). Léia como armadora de ferro e Lucicleia como pedreira.

 

Lucicleia Dantas e Alcileia da Silva na entrega de certificados dos cursos: Programa de capacitação incentivou inserção também de mulheres

 

Os cursos tiveram duração de 160 horas e foram realizados com o apoio da Prefeitura.

 

Em meio à campanha de divulgação do processo seletivo, com estímulo a inscrições de homens e mulheres, Léia “nem imaginava o que era um Armador de Ferro”.

 

Também imaginava que “muitos poderiam achar que estava em um curso só de homens em busca de algum relacionamento ou, simplesmente, por querer aparecer”.

 

Ela teve “um pouco de medo”, relembra.

 

Mas “sempre ter gostado de aprender coisas novas” e a convicção de que “nunca é tarde para aprender” foram combustíveis para que ainda assim se candidatasse a uma vaga.

 

Oportunidade
Léia é casada e mãe de quatro filhos, três deles adultos. Ela recebeu apoio em casa, mas observa que nem todas contam com estímulo.

 

“Quando eu cheguei para a inscrição tinha uma mulher. Nós entramos juntas (no prédio). Mas o marido dela não quis (que ela participasse), porque só tinha nós duas. Eu fui em frente. O que veio na minha cabeça foi uma oportunidade. E eu fui para cima e agarrei”.

 

Única mulher a receber o diploma do curso, a potiguar – que já trabalhou como empregada doméstica, como cozinheira e em fábricas de costura – se vê agora em um novo universo de conhecimentos envolvendo a construção civil, com aprendizados que vão desde projetos de estrutura; planejamento, segurança do trabalho, meio ambiente e qualidade, até matemática, estruturas de concreto armado e armações para concreto armado.

 

“Aprendi a ler projetos e a colocar em prática”, comemora.

 

“Aprendi a ler projetos e a colocar em prática”, comemora, Léia, após curso promovido pela Elera Renováveis em parceria com o CTGAS-ER do SENAI

 

 

Léia está desempregada há um ano e nunca pensou em desistir do curso. A motivação veio da família, mas também dos colegas de turma, homens, e do instrutor.

 

“Eu fui muito acolhida (por eles). Isso significa não ser olhada com indiferença. Ser respeitada”.

 

Os cursos foram promovidos por meio do Programa de Investimento Social do Complexo Eólico Oeste Seridó da Elera Renováveis, em desenvolvimento em Parelhas.

 

A estimativa com o Complexo é gerar até 1.000 empregos diretos no pico das obras.

 

Em nota, a companhia explica que “a capacitação busca aumentar a disponibilidade de profissionais qualificados na região para possíveis oportunidades”. E que a política que segue é de priorização de mão de obra local na construção e operação dos ativos.

 

A empresa opera, desde 2015, o Complexo Renascença, nos municípios de Parazinho e João Câmara, também no Rio Grande do Norte.

 

Diversidade
A assessora de Mercado e Projetos do SENAI-RN, Amora Vieira, observa que o investimento ocorre em um momento acelerado para o setor no estado – que lidera a produção de energia eólica em terra no Brasil – assim como reforça a busca por diversidade que tem se intensificado nessa indústria, onde os homens ainda predominam.

 

O programa de capacitação corrobora com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, que buscam, de forma geral, acabar com a pobreza, reduzir desigualdades, fomentar a educação de qualidade e combater as mudanças climáticas no mundo.

 

Em Parelhas, durante a cerimônia de entrega dos diplomas na quarta-feira, o instrutor do SENAI-RN que conduziu o curso de Armador de Ferro, Erbson Ribeiro, destacou, no microfone, o que chamou de “garra” das duas profissionais formadas na cidade.

 

Os homens concluintes assistiam. O instrutor pediu então que as duas ficassem de pé.

 

E assim, a pedreira de alvenaria e a armadora de ferro puderam ouvir, enquanto se erguiam e caminhavam, “parabéns para as mulheres”, seguido de palmas.

 

“Eu me senti orgulhosa”, diz Léia. “Ter o diploma de Armadora de Ferro é muito gratificante e a minha expectativa é colocar em prática o que aprendi”, seja ajudando a construir um parque eólico ou atuando em outras obras”, afirma. De acordo com o Catálogo Nacional de Programas de Aprendizagem Profissional, atuar na área que ela escolheu significa embarcar em atividades como preparar a confecção de armações e estruturas de concreto, cortar e dobrar ferragens de lajes, montar e aplicar armações de fundações, pilares e vigas.

 

As mãos de Léia, também habituadas à arte do tempero – garante ela – não se intimidam.

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