Formatura nesta terça (29) é parte do primeiro ciclo de capacitações do projeto “Trilhando com fios” – lançado, neste ano, para a formação profissional de 600 pessoas na atividade da costura
O SENAI do Rio Grande do Norte e a indústria de confecções Guararapes concluíram, nesta terça-feira (29), o primeiro ciclo de capacitações do projeto “Trilhando com fios” – lançado, neste ano, para a formação profissional de 600 pessoas na atividade da costura.
Durante cerimônia realizada na fábrica, 165 homens e mulheres que integraram as primeiras turmas receberam certificados. “É um orgulho pra mim, na metade da minha vida, conseguir”, comemorou Francisca Márcia Lopes Silva, de 42 anos, uma das concluintes e, há cerca de um mês, também empregada na linha de produção.
Ela integra um grupo de 120 participantes do projeto que foram contratados/as pela Guararapes. “Eu trabalhava como diarista. Saía diretamente da casa da minha patroa para fazer o curso. Essa é a minha primeira carteira assinada”, frisou Márcia, com planos de ir além. “Eu pretendo me capacitar mais, porque quero crescer mais e hoje posso dizer: ‘Estou preparada’”.
O curso de costura industrial é realizado nas instalações da Guararapes, em Natal, e oferecido de forma gratuita à população. O ingresso é feito por meio de processo seletivo, com todas as regras disponíveis no edital 002/2025, publicado no site do SENAI (https://www.rn.senai.br/publicacoes/).
O projeto prevê a formação de 20 turmas, distribuídas em diferentes ciclos de capacitação. As primeiras tiveram início em fevereiro e receberam os certificados nesta terça. Outras três, reunindo um total de 210 pessoas, começaram segunda-feira (28) e seguem em formação até junho.
As aulas são realizadas, de segunda a sexta, com carga horária total de 160 horas – o equivalente a aproximadamente dois meses. Em junho, um novo período de inscrições será lançado, com mais 210 vagas e programação de atividades até agosto. A iniciativa conta com o apoio do Instituto Riachuelo. Os/as concluintes da capacitação passam a compor o “Banco de Talentos” da Guararapes para possíveis oportunidades de trabalho.
Francisca Márcia Lopes Silva, de 42 anos, é uma das concluintes do curso e, há cerca de um mês, está empregada na linha de produção. “É a minha primeira carteira assinada”
Oportunidades
Em discurso que abriu a cerimônia de formatura das primeiras turmas, a diretora de produção da empresa, Anny Gonçalves, ressaltou que quase 10 mil profissionais trabalham na fábrica e que a qualificação abre um mar de oportunidades. “E vocês vão estar no meio desse mar, com uma coisa que ninguém vai tirar de vocês: o conhecimento”, disse, diante de concluintes e ingressantes do curso.
Sara Monte, coordenadora de Gente da Guararapes, ressaltou que “a iniciativa fomenta o crescimento da indústria, mas, acima de tudo, da comunidade”. “É uma jornada em que a gente abre as portas e proporciona oportunidade de crescimento, de desenvolvimento, de evolução profissional na maior indústria de confecção da América Latina”, frisou ela, enfatizando: “O conhecimento transforma. O conhecimento é poder”.
A diretora dos Centros de Educação e Tecnologias do SENAI em Natal, Amora Vieira, convidou as turmas que concluíram a formação a levantarem os certificados para o alto, em comemoração ao resultado que atingiram. “Se orgulhem”, disse ela. “Se orgulhem do que vocês têm na mão de vocês. É o reconhecimento do esforço que fizeram e, para os/as alunos/as que estão entrando no segundo ciclo, cada dia também vai depender de esforço, de chegar em um momento como esse, de conclusão do curso”.
Antes da formatura, em conversa com a turma de iniciantes, ela também enfatizou: “Nunca é tarde para sonhar. E o caminho que vocês estão trilhando precisa ser sem volta, é sempre de progressão, de conhecimento, de buscar aperfeiçoamento e oportunidades”.
Amora Vieira, do SENAI-RN: “Nunca é tarde para sonhar. E o caminho que vocês estão trilhando precisa ser sem volta, é sempre de progressão, de conhecimento, de buscar aperfeiçoamento e oportunidades”
A supervisora pedagógica do SENAI-RN, Magda Cardoso, parafraseou o educador e filósofo Paulo Freire para incentivar quem terminou e quem está iniciando as atividades do projeto. “Educação não transforma o mundo”, disse ela. “Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo”. O analista de Business Partner da Guararapes, George Augusto, também destacou o impacto social que as empresas podem provocar, com iniciativas como essa. “Olha quantas pessoas estão tendo oportunidade de aprender uma profissão e que vão levar isso para a vida”, disse, em discurso.
“Esse projeto”, complementou ainda, “encerra um ciclo de capacitação com 165 pessoas e está começando um novo com 210. E por que tanto esforço? E por que tanta necessidade de capacitação? A gente vive uma escassez de mão de obra qualificada. Falta para as pessoas oportunidade de se capacitar. E o impacto que uma empresa pode causar numa sociedade não é só gerar emprego, não é só gerar renda, lucro e etc. Há também o impacto social”.
A programação da cerimônia incluiu homenagem à Lucia Maria Faustino, Alda Maria da Silva Julião e Luzimar Xavier Silva, instrutoras de educação profissional do SENAI-RN que estão conduzindo a formação.
Curso
O curso de costura industrial inclui conteúdos ligados a relações socioprofissionais, cidadania e ética, além de conhecimentos práticos introdutórios, contemplando, por exemplo, costura em tecido plano e malha, confecção de camisa, camiseta e peças femininas.
Joseneide Virgínia Pereira de Melo, 56, “nunca havia pegado em uma máquina de costura antes”. “E hoje, estar com esse certificado, para mim, significa muito, porque foi uma superação”, afirmou ela. “Eu não imaginava que eu fosse tão capaz. Mas as pessoas que são capacitadas para nos orientar, fizeram todo o possível para que a gente conseguisse”.
Joseneide Virgínia Pereira de Melo, 56, “nunca havia pegado em uma máquina de costura antes”. “E hoje, estar com esse certificado, para mim, significa muito, porque foi uma superação”
O apoio que recebeu em casa para voltar a estudar e tentar uma recolocação no mercado, disse, também tem feito toda a diferença “Eu era técnica de enfermagem e parei sete anos da minha vida, deixei de trabalhar para cuidar do meu marido, que é cardiopata. E quando outras pessoas não me deram força para fazer o curso, ele disse ‘você consegue, você é capaz, você é inteligente. Em dias em que eu dizia ‘eu acho que não vou conseguir’, ele dizia ‘vai’”.
A expectativa agora é conquistar uma vaga. “Eu me questionei muito com Deus ‘por que ele não me dava um emprego’. Aí eu consegui a inscrição na Guararapes. No outro dia eu já vim fazer o curso. E hoje estou aqui: o que você me der, eu costuro. Eu faço tudo. Estou muito feliz, muito feliz de verdade. Para algumas pessoas pode não significar nada, mas, para mim, significa muito”.
Texto e fotos: Renata Moura
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