“Esse é um reconhecimento de que estamos no caminho certo, e de que nossas entregas de produtos e processos inovadores ou inovados têm aplicabilidade no ambiente industrial”, diz Rodrigo Mello, diretor do SENAI-RN e do ISI-ER, que na imagem aparece com parte da equipe homenageada e duas das boias Bravo
A equipe do Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER) que participou do desenvolvimento da “Bravo” – tecnologia criada de forma inédita no Brasil para prospecções ligadas à energia eólica offshore – conquistou o Prêmio Inventor 2025 da Petrobras. A premiação reconhece profissionais com atuação em projetos da companhia que levaram a depósitos de pedidos ou registros de patentes. No caso da Bravo, 11 pesquisadores do ISI-ER foram homenageados.
“Esse é um reconhecimento de que estamos no caminho certo, e de que nossas entregas de produtos e processos inovadores ou inovados têm aplicabilidade no ambiente industrial”, avalia o diretor do SENAI-RN e do ISI-ER, Rodrigo Mello.
Os trabalhos que resultaram no lançamento da Bravo e, posteriormente, no depósito de pedido de patente da tecnologia – foram realizados entre os anos 2021 e 2023 no Brasil, reunindo pesquisadores do ISI-ER, do Cenpes – o Centro de Pesquisas da Petrobras – e do Instituto SENAI de Inovação em Sistemas Embarcados, de Santa Catarina.
“Essa é uma conquista tecnológica que abre caminho para o futuro da energia limpa e competitiva em nosso país”, destaca o presidente do Sistema FIERN e do Conselho Regional do SENAI-RN, Roberto Serquiz. “Quero parabenizar a equipe do Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis que participou do desenvolvimento da Bravo, uma tecnologia criada de forma inédita no Brasil, que chega para atender a atual grande fronteira da geração de energia”, acrescenta.
Tecnologia
A tecnologia, denominada Boia Remota de Avaliação de Ventos Offshore, ou Bravo, é um modelo flutuante de LiDAR (Light Detection and Ranging) com capacidade para registrar velocidade e direção dos ventos, variáveis meteorológicas, como pressão atmosférica, temperatura do ar e umidade relativa, além de variáveis oceanográficas, a exemplo de ondas e correntes marítimas, consideradas essenciais para a determinação do potencial de uma área para a produção de energia eólica.
Segundo os pesquisadores envolvidos, o sistema pode ser usado na prospecção de recurso eólico offshore, na caracterização de variáveis oceanográficas e em estudos de previsões climáticas e oceânicas.
Uma primeira versão foi testada em 2022 no Rio Grande do Norte. A segunda, com maior área de convés e upgrade na parte eletrônica, foi lançada em 2023, a 20 km da costa do estado, para uma campanha de testes e validação, no mar de Areia Branca (RN). O equipamento pesa 7 toneladas, tem 4 metros de diâmetro e 4 metros de altura. Sua autonomia de energia é garantida por módulos de energia solar fotovoltaica.
“A Bravo é um produto desenvolvido para a atual grande fronteira da geração de energia no Brasil, e para você entrar nessa nova fronteira é preciso ter uma boia como essa, para conhecimento do recurso eólico, ou estruturas fixas, extremamente caras e de difícil utilização”, observa Rodrigo Mello, analisando o desenvolvimento da tecnologia nacional na área como fundamental. “Podemos dizer que a conclusão do projeto, a entrega do equipamento e o depósito do pedido de patente são indicadores de que isso aconteceu com muito sucesso”.
Antonio Medeiros, coordenador de P&D do ISI-ER (de terno azul na foto), representou o Instituto na entrega da premiação: Na imagem, ele aparece com parte da equipe da Petrobras | Foto: Divulgação ISI-ER
O coordenador de Pesquisa & Desenvolvimento do ISI-ER, Antonio Medeiros, cita a submissão do pedido de patente como “um marco” após meses de trabalho em equipe para projetar, desenhar, testar e validar a tecnologia. “É um marco que abrange todo o desenvolvimento da narrativa de um projeto de engenharia até a confirmação de que o novo sistema é factível. Ou seja, o registro da patente, que se espera agora, mostra que o trabalho teve início, meio e fim, e o fim seria o produto de fato concebido, saindo da prancheta e chegando ao lançamento da boia em um ambiente relevante”, acrescenta.
Projeto abre novas perspectivas para o desenvolvimento da energia eólica offshore no Brasil
Antes da invenção da Bravo as medições de ventos offshore no Brasil eram realizadas com plataformas fixas, como plataformas de petróleo. Estudos na área utilizavam dados anemométricos – ou seja, informações sobre o vento e outras variáveis meteorológicas – medidos em terra e então extrapolados espacialmente, por meio de simulações numéricas, para o mar.
Na descrição dos pesquisadores, os resultados envolviam níveis consideráveis de erro e incerteza para as estimativas de recurso eólico offshore. Outra dificuldade estava ligada à complexidade e aos custos do processo de licenciamento associados às formas convencionais de medição.
Inovação
A Bravo, segundo o coordenador de P&D do ISI-ER, Antonio Medeiros, dá mais abrangência à metodologia de medição de ventos e permite mais aprofundamento de estudos que antes eram realizados com plataformas fixas.
“Nós, no SENAI, começamos a pesquisar os ventos offshore em 2012, fazendo medições em plataformas fixas, mas havia a necessidade de medir em outras localidades onde essas estruturas não estivessem disponíveis”, lembra o pesquisador.
“Agora, com o desenvolvimento da boia, vai ser possível medir em qualquer condição de mar e em qualquer condição de profundidade, obviamente dentro da razoabilidade de uso da tecnologia eólica. Então a gente acredita que há um potencial de mercado muito significativo para o Brasil e que a Bravo abre uma nova fronteira para a cadeia de valor da economia do mar, para a área de renováveis no offshore”, observa.
O novo sistema, complementa ainda, “mostra que o Brasil tem potencial para desenvolver tecnologia em pé de igualdade com institutos e empresas internacionais, além de um grande comprometimento e nível de conhecimento acumulado no país com os pesquisadores”.
No ISI-ER, estudos sobre desenvolvimento de sistemas de medição do tipo boia tiveram largada em 2021. “E todo o caminho percorrido de lá até aqui, levando em consideração as complexidades do ambiente offshore, mostra que, com incentivo de indústrias brasileiras e da academia, é possível desenvolver tecnologia para acelerar ainda mais o processo de desenvolvimento da indústria”, frisa o coordenador de P&D.
Vantagens
De acordo com informações do Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis, o desenvolvimento do sistema flutuante nacional de medições trouxe, entre outras vantagens, mais facilidades para manutenção e transporte, capacidade para embarcar até duas unidades de sensor anemométrico remoto (LiDAR) e sensores oceanográficos, além de estações meteorológicas, sensores de movimentação, sistema de alimentação/armazenamento de energia elétrica, sistema de comunicação (via satélite, GSM e wifi) e eletrônica de bordo para controle e integração dos sistemas.
Profissionais do ISI-ER que vem atuando em diferentes fases do desenvolvimento do projeto: Solução que a boia representa é avaliada como urgente para a indústria
O equipamento possui, ainda, espaço para instalação de módulos fotovoltaicos, garantindo autonomia para funcionamento, e LiDARs com capacidade de medir variáveis relacionadas ao vento em diversas alturas, com alcance de até 300 metros acima do nível médio do mar.
“A grande inovação do projeto foi entregar ao mercado um equipamento desenvolvido no Brasil para fazer avaliações dos ventos offshore de forma autônoma. É uma solução bastante urgente para a indústria porque a gente tem que percorrer todo o estágio de desenvolvimento experimental até atingir o patamar comercial e a partir daí, sim, a cadeia de renováveis poder usar esse equipamento para desenvolver seus projetos comerciais”, diz Medeiros.
A tecnologia segue em fase de desenvolvimento e estágio pré-comercial até o ano 2027, quando deverá começar a ser produzida em série para viabilizar medições de ventos de forma a atender regras da norma IEC 61400.50-4, que descreve procedimentos e métodos que garantem que as medições de vento com sistemas de floating lidar – como é o caso da boia – sejam realizadas e reportadas de forma consistente e de acordo com as melhores práticas.
Rodrigo Mello, diretor do SENAI-RN e do ISI-ER, observa que a Bravo integra um conjunto mais amplo de projetos da instituição com foco no potencial eólico offshore. “Nós temos realizado medições e estudos na área desde 2012 no Brasil e muito ainda está por vir em pesquisas, formação de pessoas e prestação de serviços”, disse ele. “Analisamos que o offshore será um ambiente de muito sucesso no país e não temos dúvidas de que o SENAI tem sido e continuará sendo peça fundamental nesse contexto”.
No ISI-ER, o desenvolvimento da fase 1 da Bravo, premiada pela Petrobras, reuniu profissionais das áreas de Engenharia Civil, Mecânica, Elétrica, Naval, de Ciência e Tecnologia e técnicos em Mecânica, Soldagem e Eletrotécnica.
Como integrantes da equipe, receberam a homenagem da companhia Antonio Medeiros, Leonardo de Lima Oliveira, Mateus Felipe, Gabriel Filipe de Azevedo Pereira, Luciano Andre Cruz Bezerra, Caio Graco Lopes Alves, Gabriel Araujo Almeida Figueiredo, Francisco de Assis da Silva Junior, Plinio Jose de Oliveira, Raniery Maciel de Almeida e Pedro Gabriel Martins Domingos.
SAIBA MAIS – A BRAVO EM DESTAQUE
O Prêmio Inventor Petrobras 2025 não foi o único reconhecimento à equipe do ISI-ER pela Bravo. Em junho deste ano, a fase 2 do projeto foi classificada como finalista do Energy Summit Awards 2025, prêmio que destaca as iniciativas mais transformadoras do setor energético brasileiro. A boia foi indicada à premiação na categoria “Projetos de Pesquisa – Academic Research”, ao lado de iniciativas de quatro Universidades Federais (UFMG, UFRJ, UFRGS e UFSCar), da Universidade de São Paulo (USP), do SENAI Cimatec e do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM).
Na ocasião, a Bravo foi inscrita no prêmio pela Petrobras, com o título “Desenvolvimento de Sistema Flutuante para Medição de Recurso Eólico com LiDAR – Fase 2”. Os finalistas na categoria foram indicados pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
Em 2023, A Bravo foi destaque em reportagem da série “O Futuro da Energia”, do Fantástico: Imagem mostra uma das cenas exibidas no programa
Antes, em 2023, a Boia foi destaque em reportagem da série “O Futuro da Energia”, exibida pelo Fantástico, da TV Globo, como exemplo de iniciativa em curso no país para expandir o conhecimento técnico disponível para investimentos do setor no offshore (no mar). “Essa boia aqui, que pesa 7 toneladas, é uma peça fundamental num projeto pioneiro para desenvolver a energia eólica offshore no Brasil. Durante três anos, ela vai estar no mar, a 20 km da costa do Rio Grande do Norte, e vai medir todas as variações tanto do oceano como do vento”, disse a repórter Fernanda Graell na gravação, realizada na Base Naval de Natal, durante testes que precederam o lançamento do equipamento no município de Areia Branca.
*Texto e fotos da equipe com a Bravo: Renata Moura
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