Mulheres e futuro do trabalho: Fórum de Empregabilidade debate equidade na transição para a economia verde

24/07/2025   16h33

Com o objetivo de discutir sobre a inserção de mulheres no futuro do trabalho, o Fórum de Empregabilidade do Sistema Indústria reuniu pesquisadoras do Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis no painel “Economia verde: a transição ecológica passa pela equidade de gênero – O futuro do trabalho exige inclusão de mulheres, inovação e visão de sustentabilidade”. A atividade, conduzida por Fabiana Dias, jornalista e consultora da agência de cooperação alemã GIZ, foi realizada pelo Sistema FIERN, na noite da última quarta-feira (23), em Natal.

 

Durante o painel, Fabiana apresentou dados que reforçam o desequilíbrio de gênero ainda presente no mercado de trabalho. Segundo informações da ONU, apenas 63% das mulheres entre 25 e 54 anos estão empregadas, enquanto entre os homens da mesma faixa etária esse índice chega a 91%. A palestrante defendeu que esse cenário exige atenção, sobretudo diante das transformações com o avanço da chamada economia verde.

 

De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), a transição para uma economia mais sustentável pode gerar até 24 milhões de novos empregos no mundo até 2030. O Brasil, segundo levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI), já responde por 10% desses empregos globalmente, ocupando a segunda colocação entre os maiores empregadores em setores como biocombustíveis, energia solar, hidrelétrica e eólica.

 

A perspectiva de crescimento desses segmentos reforça a necessidade de ampliar a presença feminina nos espaços de decisão e inovação. “A transição ecológica é um projeto coletivo. E o futuro que queremos, justo, inclusivo e sustentável, só será possível se construirmos juntos e juntas”, afirmou Fabiana. Ela também alertou para a importância de que essa transição ocorra de maneira ampla: “Não adianta ser verde se não for inclusivo e sustentável”.

 

A palestrante também destacou que os modelos econômicos com foco em práticas de baixo impacto que mais ganham espaço no mundo são as energias renováveis, a economia circular, a bioeconomia, a agricultura regenerativa e a mobilidade limpa.

 

Para que essas transformações de fato se consolidem, defende, é preciso garantir a diversidade nos espaços produtivos e incluir as mulheres nesse processo. “O universo não vai dar um jeito se não tivermos intenção”, afirmou Fabiana Dias.

 

Fabiana Dias, jornalista e consultora da GIZ falou sobre trabalho do futuro, com foco na Economia Verde

Desafios para mulheres no setor

 

As pesquisadoras Fabíola Correia, Samira Azevedo e Mariana Mello, todas com atuação no SENAI-RN, relataram experiências profissionais e os obstáculos enfrentados pelas mulheres no mercado de trabalho em áreas ligadas à transição energética. A dupla jornada, a ausência de oportunidades e a necessidade de maior reconhecimento foram pontos destacados por elas.

 

A abertura de mais oportunidades foi um dos destaques na fala de Mariana Mello, que participou do projeto que recebeu a primeira licença de energia eólica offshore do Brasil. “O que enxergamos por aí é que as mulheres estão cheias de intenção, cheias de coragem, mas ainda precisamos de oportunidades”, afirmou a pesquisadora.

 

Fabíola Correia, doutora em Engenharia de Petróleo e pesquisadora do ISI-ER, destacou que a inclusão feminina é essencial nos setores como eólica offshore, hidrogênio verde e energia solar. Para isso, ela comentou que é necessário ter posicionamento e segurança da sua capacidade. “Por muitas vezes essa postura é confundida, mas é um posicionamento feminino diferente. É sobre mudar a forma como vivemos, produzimos e cuidamos da vida”, afirma.

 

Já Samira Azevedo, pesquisadora líder do Laboratório de Energia Solar do SENAI-RN, destacou a importância de ocupar espaços estratégicos e romper estigmas de gênero no ambiente profissional. “É importante mostrarmos que podemos estar onde quisermos e que temos as mesmas competências e outras especificidades que trazem, de fato, uma qualidade para os processos produtivos”, afirmou.

 

Educação profissional e novas oportunidades

 

A formação profissional foi apontada como um dos caminhos fundamentais para garantir a inserção das mulheres no trabalho do futuro. “A educação profissional tecnológica tem um papel importante no futuro. Precisamos de espaço para todas as pessoas”, afirmou Fabiana Dias. Segundo ela, o avanço da economia verde exige novas competências, e a qualificação técnica desempenha papel decisivo nesse processo.

 

Mais do que o ensino escolar tradicional, a educação profissional é o elo entre as transformações tecnológicas e a preparação de profissionais aptos a atuar nos setores estratégicos da economia de baixo carbono. O SENAI-RN tem atuado fortemente nesse sentido, com formações voltadas para energias renováveis, por exemplo.

 

A instituição tem investido na capacitação de mulheres para essas áreas, tradicionalmente ocupadas por homens, e contribuído para a criação de ambientes mais diversos e inovadores.

 

Em 2024, o SENAI-RN recebeu o “Selo ODS Educação” pelo trabalho pioneiro na formação das primeiras mulheres especialistas do Rio Grande do Norte em operação e manutenção de parques eólicos. A certificação foi concedida pelo Instituto Selo Social, em parceria com o Programa Especial UnB 2030 e o GT Agenda 2030 da Universidade de Brasília, reconhecendo o compromisso da instituição com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

 

“As mulheres precisam também de oportunidades”, afirmou Fabíola Correia. Para ela e as demais pesquisadoras da instituição, o avanço na inclusão feminina está diretamente ligado ao acesso à formação qualificada.

 

Segundo Fabíola, a presença de mulheres em turmas técnicas, como nas formações para atuação em torres eólicas, tem aumentado, mas os desafios ainda persistem. “Percebemos um avanço na transição energética, mas vemos que essa mudança ainda caminha mais devagar”, destacou.

 

Fórum

 

O Sistema FIERN – por meio do SENAI-RN e do IEL-RN – e o Movtech promoveram, nesta quarta-feira (23), o I Fórum de Empregabilidade do Sistema Indústria. O evento foi realizado das 16h às 22h no Hub de Inovação e Tecnologia do SENAI, em Natal, com entrada gratuita.
A programação incluiu oficinas, rodas de conversa, espaços interativos e palestras de representantes de instituições como Ifood, Instituto Coca-Cola, agência de cooperação internacional alemã GIZ, Vox2you e Reprograma – iniciativa de impacto social que tem como missão diminuir desigualdades de gênero e raça no setor de tecnologia por meio da educação.

 

Texto: Líria Paz
Fotos: AV Filmes

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