O desenvolvimento da atividade no Brasil foi a pauta central de Workshop realizado, durante dois dias, no Hub de Inovação e Tecnologia do SENAI-RN
O Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER), o Conselho Global de Energia Eólica (GWEC) e a organização britânica Ocean Energy Pathway (OEP) encerraram, nesta quinta-feira (09), em Natal (RN), o “Workshop desafios para a instalação de parques eólicos marítimos no Brasil”.
O evento, uma realização conjunta das três instituições, com o apoio da Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte (FIERN) e da Marinha, reuniu, durante dois dias, representantes das organizações militares da Marinha, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), da Associação Brasileira de Energia Eólica e Novas Tecnologias (ABEEólica), além de empresas convidadas e pesquisadores/as do ISI-ER, no Hub de Inovação e Tecnologia do SENAI-RN, na capital.
A pauta incluiu normas e recomendações para o estabelecimento dos parques offshore, questões de segurança e interação da navegação marítima com essas estruturas, além de aspectos técnicos e regulatórios que influenciam o planejamento de projetos e decisões de investimento no setor.
Alinhamento técnico
“Nós estamos aqui, em um centro de referência nacional que estuda, desenvolve e inova na área das energias renováveis, com projetos para todo o Brasil”, disse o presidente da FIERN e do Conselho Regional do SENAI-RN, Roberto Serquiz, ao abrir o workshop, na quarta-feira (08). “O que se pretende com o debate que estamos propondo é avançar no alinhamento técnico, normativo, entendendo que o Brasil está nessa nova fronteira energética e que o movimento de construção de parques no mar precisa ser um movimento seguro e soberano, tendo a Marinha um papel estratégico em todo esse processo”, acrescentou ele.
Roberto Serquiz, presidente da FIERN e do Conselho Regional do SENAI-RN: ‘O que se pretende com o debate que estamos propondo é avançar no alinhamento técnico, normativo”
Rodrigo Mello, diretor do SENAI-RN e do Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis, observa que o evento destrinchou detalhes do ambiente de produção de energia eólica no mar e de quais exigências esse ambiente precisa atender no país.
“O grande desafio”, pontuou ele, “é aprimorar a interação entre o setor que deverá se instalar no offshore brasileiro e a Marinha, que possui a missão constitucional de proteger e salvaguardar a nossa Amazônia azul”. “Foi isso o que discutimos nesses dois dias e a ideia é continuar esse diálogo”.
Entre os pontos discutidos no evento estavam normas para o estabelecimento dos parques offshore, a sinalização desse tipo de estrutura, análise de risco e medidas de controle na operação, a importância da medição e da coleta de dados meteoceanográficos para a atividade – informações sobre, por exemplo, vento, ondas, correntes, temperatura do mar e do ar – a instalação de cabos submarinos para escoar a energia, a distância segura para a navegação de embarcações em futuras áreas de geração e o descomissionamento dos parques, ou seja, os desafios ao final da vida útil das instalações marítimas.
De acordo com o coordenador de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) do ISI-ER, Antonio Medeiros, como desdobramento prático dessas discussões será elaborado um itinerário de trabalho para ampliar a colaboração junto à Marinha e às outras instituições envolvidas. “Isso, no sentido de buscarmos superar gargalos de conhecimento e de buscarmos, por exemplo, práticas internacionais que deram certo para os problemas que foram discutidos”, exemplificou ele. “De uma forma geral, este foi o início de uma força de trabalho”.
Antonio Medeiros, coordenador de P&D do ISI-ER: Evento representou início de força de trabalho voltada à atividade offshore
A programação, segundo o coordenador, permitiu abordar temas necessários à construção de um entendimento entre os agentes envolvidos, incluindo Marinha, indústrias e ICTs (Institutos de Ciência e Tecnologia), sobre metodologias de elaboração de projetos, de modo a viabilizar a aprovação desses projetos no momento da análise, seja junto ao Ibama, seja junto à Marinha, e a possibilitar a formação de pessoas para analisar e elaborar bons projetos.
Perspectivas
A energia eólica offshore é a energia dos ventos gerada com turbinas instaladas no mar ou em grandes mananciais de água. A atividade já existe na Ásia, na Europa e nos Estados Unidos. No Brasil, onde está à espera de regulamentação, os primeiros investimentos foram sinalizados para as regiões Nordeste, Sul e Sudeste do país.
A diretora da Ocean Energy Pathway no Brasil, Julia Paletta, observa que as instituições que sentaram à mesa no workshop têm o objetivo de discutir, de se alinhar em torno da organização do espaço marítimo, da autoridade marítima e do desenvolvimento dessa nova indústria. “Eu acho que o evento cumpriu o seu objetivo. Conseguimos trocar muita informação. Foram dois dias com atenção completa de partes fundamentais para a gente conseguir avançar no entendimento e no desenvolvimento dessa agenda de eólicas offshore no Brasil”.
Dados do Ibama mostram que 104 complexos eólicos previstos para o mar têm processos de licenciamento abertos no órgão – com a primeira licença prévia emitida este ano para o Rio Grande do Norte. O projeto, uma planta-piloto, ou sítio de testes, para estudos com foco na atividade, foi concebido pelo SENAI-RN, por meio do ISI-ER.
“No Brasil, muitas vezes a gente se depara com o questionamento de ‘por que a energia eólica offshore’, se no curto prazo não existe uma demanda premente para suprimento de energia e se o Brasil é tão rico em outras fontes de energia”, disse Julia Paletta. “Mas o que a gente precisa compreender é que essa matriz renovável no país se apoia muito na fonte hidrelétrica, que depende do regime de chuvas, e a ciência já traz de forma muito clara como as mudanças climáticas podem impactar isso no futuro”, disse ela, ressaltando a importância da complementaridade entre a eólica offshore e a hidrelétrica.
Julia Paletta, da OEP: Expectativa de avanços no entendimento e no desenvolvimento da agenda de eólicas offshore no Brasil
“A eólica offshore é uma fonte de diversificação, e isso é um princípio de segurança energética, de resiliência. Além disso, a gente mitiga, com ela, efeitos das mudanças climáticas, sem contar a oportunidade econômica que surge”, analisou ainda.
Gustavo Ferreira, analista de políticas do GWEC, destacou que “o Brasil é o melhor lugar do mundo para o offshore, especialmente no Nordeste”. Dados que apresentou sobre o contexto global da atividade mostram cerca de 80 Gigawatts (GW) já instalados no mundo e que o mercado cresceu, em média, 10% ao ano na última década, liderado pela China.
Os dados do GWEC apontam 19 países com usinas em operação. No Brasil, por sua vez, a indústria é citada como “amadurecendo e focada, atualmente, em estabelecer o infralegal”, ou seja, normas e atos administrativos que detalham, complementam ou regulamentam a Lei nº 15.097, que disciplina o aproveitamento de potencial energético offshore no país, sancionada em janeiro deste ano. “O Poder Executivo está trabalhando nos detalhes do processo competitivo que permitirá a concessão das áreas no mar à iniciativa privada”, apresentou Ferreira. A partir das discussões no workshop, ele afirmou estar “impressionado com o quão preparada a Marinha está para a eólica offshore”.
Gustavo Ferreira, do GWEC, destacou, durante o evento, o potencial da energia eólica offshore no Brasil e no Nordeste
O diretor de Novos Negócios da ABEEólica, Marcello Cabral, frisou que há “um potencial gigantesco” a ser explorado no Brasil nessa nova fronteira – e que para transformar esse potencial em realidade “a palavra é cooperação, tanto interna quanto externa”. “Um dos desafios que enxergamos é trabalhar de forma agregada. É preciso ter união”, disse ele, pontuando que eventos como o workshop ajudam a reduzir assimetrias de informação no mercado. Cabral também avaliou que, para que a indústria nasça no Brasil, não basta a lei. “É preciso ter experiência prática”, disse.
Plantas-piloto previstas para o país, como a concebida pelo SENAI, no Rio Grande do Norte, deverão cumprir esse papel como “laboratórios vivos”, acrescentou o executivo. Nesse contexto, disse ainda, despontam também desafios para o desenvolvimento de competência nacional, além de outros, ambientais, sociais e logísticos – incluindo a preparação de portos para os equipamentos gigantes, característicos dessa indústria.
O Almirante-de-esquadra Borges avaliou o workshop como relevante no contexto das discussões nacionais sobre energia eólica offshore e alinhado à economia azul
O assessor do comandante da Marinha para assuntos ligados à autoridade marítima, almirante-de-esquadra Borges, avaliou o workshop como relevante no contexto das discussões nacionais sobre energia eólica offshore – tema chamado por ele de estratégico – e alinhado à economia azul. “Foi uma troca de experiências bastante produtiva. Conseguimos alinhar conhecimentos, trocar ideias”, disse.
Na abertura do evento, ele frisou que o compromisso da Marinha é possibilitar o avanço da eólica offshore de forma ordenada, segura e sustentável. “Decisões nessa área têm que conciliar interesses da sociedade”, disse e acrescentou: “Os desafios na área são multidisciplinares e esse workshop é mais do que uma oportunidade de debate técnico. É uma oportunidade de convergência e a perspectiva é de que seja um marco na construção de soluções concretas”.
O comandante do 3⁰ Distrito Naval, vice-almirante Rulff, citou o evento como oportunidade de compartilhar e construir novos conhecimentos sobre o tema, além de “sedimentar ainda mais a parceria da Marinha com o SENAI” – já estabelecida com a oferta de cursos de educação profissional para os militares e em frentes como o trabalho colaborativo entre técnicos das duas instituições e no apoio em projetos de Pesquisa, Desenvolvimento & Inovação, durante o lançamento e o recolhimento de boias usadas para medição do recurso eólico na região de Areia Branca (RN).
O presidente da Iala no Brasil (Organização Internacional de Auxílios Marítimos à Navegação), contra-almirante Marcos Almeida, também apontou a expectativa de as discussões darem bons frutos para o país
O presidente da Iala no Brasil (Organização Internacional de Auxílios Marítimos à Navegação), contra-almirante Marcos Almeida, também apontou a expectativa de as discussões darem bons frutos para o país. “A produtividade dos resultados, a troca de informações que tivemos no evento foi fantástica”, disse no encerramento.
O contra-almirante Sérgio Guida sintetizou que a discussão gira em torno da utilização responsável do mar e que a eólica offshore é fundamental para a geração de combustíveis verdes certificados. “O Brasil hoje discute essa certificação. Está na vanguarda”, disse.
Jean Paul Prates, chairman do Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia (CERNE), avaliou o workshop como “grande semente para a próxima fase da discussão infralegal do setor”. “Nós estamos iniciando uma nova fase, com uma lei moderna, a lei do offshore energético. Já estamos em plena era da energia offshore no Brasil”.
Representantes do CAMR – Centro de Auxílios à Navegação Almirante Moraes Rego, da Marinha, do CHM – Centro de Hidrografia da Marinha, da DPC – Diretoria de Portos e Costas da Marinha, do 3º Distrito Naval, em Natal, da Ocean Pact, da EnvironPact, da DNV, da Oceânica e da Praticagem do Brasil participaram do evento.
Workshop reuniu, durante dois dias, representantes das organizações militares da Marinha, do Ibama, da EPE, da ABEEólica, da OEP, e do GWEC, além de empresas convidadas e pesquisadores/as do Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis, no Hub de Inovação e Tecnologia do SENAI-RN, em Natal, sede do ISI-ER
Texto e fotos: Renata Moura
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