ISI-ER completa 4 anos com destaque nacional em pesquisa e inovação para transição energética

13/06/2025   16h47

Rodrigo Mello diretor do SENAI-RN e do Instituto, analisa, nesta entrevista, desafios de manter crescimento com qualidade técnica e o papel estratégico do ISI-ER no mercado

 

O Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER) completa quatro anos neste domingo (15), consolidando-se como um dos principais polos de pesquisa tecnológica em energia do Brasil. 

 

Em 2024, o Instituto — que é a principal referência do SENAI no país em Pesquisa, Desenvolvimento & Inovação (PD&I) para as indústrias de energia eólica, solar e sustentabilidade — foi apontado pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) como a instituição baseada no Rio Grande do Norte e a sétima no Brasil que mais recebeu recursos para pesquisas e atividades financiadas por empresas petrolíferas, por meio da Cláusula de Investimentos em PD&I regulada pela Agência.

 

Foram aproximadamente R$ 150,6 milhões distribuídos em três projetos apenas no ano passado, com o objetivo de impulsionar a geração de conhecimento e o uso de novas tecnologias voltadas à transição energética e à descarbonização da economia.

 

À frente do Instituto desde a inauguração, o diretor Rodrigo Mello analisa, nesta entrevista, os avanços que levaram a esse reconhecimento, os desafios de manter o crescimento com qualidade técnica e o papel estratégico do ISI-ER no mercado.

 

Imagem destaca parte dos avanços registrados pelo ISI-ER desde o ano passado, em projetos e ações que envolvem – e impactam – o Brasil e também o exterior

 

O Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis é parte da maior rede de ciência e tecnologia para o setor industrial no Brasil, composta por 28 Institutos SENAI de Inovação (ISIs). Sua trajetória inclui trabalhos como o maior mapeamento do potencial eólico offshore brasileiro, em curso na Margem Equatorial; o estudo de eventos extremos ligados à energia solar; o desenvolvimento da primeira planta-piloto do país para estudos em energia eólica offshore – em fase de licenciamento ambiental no Ibama; e da primeira planta-piloto da Petrobras para produção de hidrogênio renovável, em andamento. 

 

Também integram o portfólio pesquisas pioneiras para o desenvolvimento de SAF (combustível sustentável de aviação) e o projeto Escolas Solares, que instalou mini usinas fotovoltaicas em escolas públicas do Rio Grande do Norte para reforçar o ensino prático de disciplinas como matemática, física, ciências e geografia para estudantes do Ensino Médio.

 

Confira, a seguir, a entrevista:

 

O ISI-ER chega aos quatro anos como destaque nacional em PD&I. Como o senhor avalia o alcance desse resultado e o que um reconhecimento desse tipo, divulgado pela ANP, significa em termos de impactos para o mercado e para a transição energética brasileira? 

Esse reconhecimento é um orgulho para a nossa equipe e manter o nosso instituto de pesquisa grande certamente é uma grande responsabilidade. O ISI possui hoje uma estrutura moderna, pujante e um time que reúne muitos talentos, em uma pluralidade de competências importante que vai de Engenharia Elétrica, Mecânica, Civil e Naval, passando por meteorologistas, geólogos, geógrafos, biólogos, oceanógrafos, engenheiros de computação. Temos muita ciência embarcada, e, principalmente, o compromisso de um time muito comprometido com os desafios da indústria potiguar e da indústria brasileira, especialmente voltada a energias, sustentabilidade, combustíveis, enfim, ao mundo novo e desafiante em que a indústria brasileira está inserida. Nós estamos imersos em um dos setores que provavelmente mais evolui tecnologicamente no mundo todo, incluindo aqui o setor de energia, na fatia de energias renováveis, e o setor de combustíveis, passando pela convivência com tecnologias que mitiguem os efeitos dos combustíveis fósseis, e também pelo desenvolvimento de soluções voltadas a combustíveis avançados, sintéticos e com carbono, especialmente, de origem biológica. Enxergar que estamos contribuindo de alguma forma, com os projetos que desenvolvemos, para a vida da sociedade ser melhor amanhã, entregar isso para a sociedade e deixar um legado para as gerações atuais e futuras é um grande estímulo para o nosso trabalho

 

Do ano passado para cá, que projetos do Instituto o senhor apontaria como destaques nessa direção? 

Essa pergunta, no plural, é bastante pertinente porque o diferencial que percebemos hoje está justamente na soma dos projetos em andamento, e não em um destaque isolado. O Instituto passou a atuar em uma escala completamente diferente daquela que víamos no passado. Hoje, conduzimos um volume maior de projetos, com escala ampliada, impacto mais significativo para a sociedade e, cada vez mais, com abordagens integradas voltadas à transição energética, de forma ampla e estratégica. Tudo, sem que a motivação seja apenas romantismo ou preocupação sustentável porque quando você traz isso para a atividade econômica, alguém precisa pagar a conta e quando você faz a pergunta ‘quem pagará’, você tem que ter uma resposta de viabilidade econômica dessas tecnologias. Esta é uma preocupação do Centro, de contribuir para a geração de energia limpa, para o avanço de uma energia que tem impactos sociais positivos, impactos ambientais positivos, e que seja competitiva do ponto de vista do consumo. Seja para uso industrial, seja para o uso pessoal, em áreas como o transporte. Nós precisamos desenvolver soluções que a sociedade queira usar e não que ela vai botar numa gaveta porque custou muito caro. E hoje a energia renovável é algo absolutamente sustentável do ponto de vista econômico e competitivo num país que tem uma matriz energética já tão desafiantemente competitiva como é o Brasil. Então se lá atrás, em 2019, quando dávamos os primeiros passos do Instituto – ainda antes da inauguração oficial – a gente brigava por projetos de menor envergadura e com impacto de mais curto prazo, que impactavam o setor ou que contribuíam para o desenvolvimento do setor, hoje tratamos de projetos como a Margem Equatorial, como a quebra da barreira da entrada do offshore, de projetos que não impactam um setor, mas que impactam uma nação, impactam um povo. O investimento não é de R$ 2 milhões de reais, é de mais de cem ou duzentas vezes esse patamar. Os desafios só crescem, a responsabilidade só cresce, e a satisfação de estar no caminho certo, contribuindo com a sociedade, só cresce. 

 

O senhor ressalta, de forma recorrente, que o crescimento do ISI superou qualquer planejamento inicial. Como o Instituto tem se preparado para manter esse ritmo sem perder a qualidade técnica? 

Com compromisso com a entrega e parceria com as empresas. Nós não somos sonhadores pelo sonho, e sim sonhadores pela entrega da demanda industrial. Tudo é construído a quatro mãos, com a indústria. E sendo construído a quatro mãos, cada detalhe é pensado para que a entrega do projeto, quando concluído, seja uma entrega real. Com esse compromisso, a gente tem conseguido estruturar a nossa capacidade física e a nossa capacidade intelectual para que a manutenção dessas entregas e, cada dia mais, o fortalecimento da parceria Instituto-indústria, cresçam e a gente tenha – o tão sonhado por todo e qualquer setor econômico – crescimento sustentado, crescimento estruturado. A gente tem caminhado nesse sentido, com este corpo que mencionei, tão plural em capacidades e competências, que tem conseguido estruturar soluções e realizar entregas ao mercado, um degrau após o outro. O trabalho tem dado certo e eu acho que esse é o segredo do nosso negócio. É baseado nisso que a gente pretende crescer, projeto a projeto.

 

Qual é o principal desafio para que esse crescimento se mantenha uma realidade, assim, continuado e sustentado? 

O grande desafio é conseguirmos nos manter muito próximos da indústria e conseguirmos interpretar, transformar as ideias, as demandas, as dores da indústria em solução. Isso é um desafio para qualquer instituto de ciência, para quem desenvolve novas soluções. É  conseguir entender o que ainda não existe. Quem trabalha com engenharia natural na confecção, no uso de processos, na construção de produtos, trabalha desenvolvendo suas atividades em cima de algo que existe, seja um projeto, uma fórmula ou um caminho. Já para quem trabalha com desenvolvimento, o esforço está em entender a sua rotina baseada em algo que não existe, que não está materializado, que é ainda uma demanda, um sonho ou uma necessidade industrial. Então, precisamos conseguir interpretar essa demanda e nos manter cada dia mais juntos da indústria, que é o nosso cliente, o nosso demandante em última instância. O desafio é escutar, é fazer o projeto o mais antenado, o mais aderente possível à demanda industrial, sem querer emitir um foguete à lua, sem ter descoberto primeiro o fogo. E eu acho que quem trabalha com soluções industriais, estando muito próximo à indústria, conversando cada dia com a indústria, com o cliente, característica que é o grande diferencial do SENAI, conseguirá manter uma trajetória de crescimento sólida. 

 

E o que vem pela frente? Onde o ISI-ER quer estar nos próximos quatro anos? 

Alguns degraus acima dos que já escalamos. Com ainda mais reconhecimento da indústria e da sociedade, com a mesma força e a convicção de que o nosso trabalho gera soluções — e que essas soluções abrem caminho para mais competitividade no país, para novos avanços e melhor qualidade de vida das pessoas. Queremos estar, cada vez mais, na vanguarda do conhecimento voltado ao assunto energia, ao assunto combustível e à sustentabilidade. Contribuindo com a vida das pessoas, participando do desenvolvimento de novas fronteiras, como será o offshore e é o caso do armazenamento de carbono a partir de CCS. Queremos estar debruçados sobre novas soluções, como temos feito construindo o Instituto da Margem Equatorial, no Amapá, na porta de entrada da Floresta Amazônica, tentando contribuir para proteger o seu potencial biológico e, ao mesmo tempo, melhorar a vida das pessoas a partir das soluções que a floresta pode oferecer.

 

Nesse horizonte de quatro anos, a indústria eólica offshore deverá estar na iminência das primeiras operações. Isso aumenta essa perspectiva de crescimento? 

Há um jargão bem batido pela sociedade que diz que ‘a profissão dos nossos filhos muitas vezes nem existe hoje’. Eu diria que o conhecimento que está em desenvolvimento para a atividade de energia, no ambiente marinho, vai gerar necessidade de soluções que a gente nem conhece hoje. Por outro lado, estará gerando oportunidades de soluções, de negócios para empresas locais que tenham conteúdos nacionais, que elas jamais poderiam pensar na situação de hoje. Então eu tenho muita expectativa do impacto positivo e grandioso que essa nova indústria, que será a indústria de geração de energia eólica que se instalará no mar do Brasil, terá no país, inclusive em outras atividades econômicas que não somente a geração de energia. Essa indústria irá desafiar o SENAI a gerar informações, a gerar mais conhecimento sobre as condições marinhas, de corrente, de geologia de fundo, de ventos, de temperatura do mar, de ondas e de diversas variáveis que vão impactar tantas outras atividades, como turismo, como cabotagem. Nasce um novo ambiente de negócios a ser conhecido, a necessitar dados para a tomada de decisão, a necessitar de dados para a evolução de investimentos. E eu espero que nós estejamos intrinsecamente ligados a essa indústria, para que novos desafios cheguem e o nosso time consiga participar da construção de tantas novas respostas. 

 

Texto e fotos: Renata Moura

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