A escolha do Atlas, e de trabalhos desenvolvidos por outras instituições nas cinco regiões do Brasil, foi fruto de um levantamento inédito da FGV Energia – o Centro de Estudos de Energia da Fundação Getúlio Vargas
O Atlas Solar elaborado pelo Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER) para o estado do Amapá recebeu, nesta semana, um reconhecimento nacional como “boa prática” voltada à descarbonização da economia e ao desenvolvimento.
A escolha do Atlas, e de trabalhos desenvolvidos por outras instituições nas cinco regiões do Brasil, foi fruto de um levantamento inédito da FGV Energia – o Centro de Estudos de Energia da Fundação Getúlio Vargas – sobre iniciativas inovadoras em transição energética. O reconhecimento, segundo a instituição, foi elaborado por pesquisadores da equipe, em parceria com o Fórum Nacional dos Secretários de Minas e Energia (FNSEM).
“O objetivo principal é reconhecer projetos estaduais que contribuam para o cumprimento de metas estaduais e nacionais de descarbonização, de modo a estimular emprego e renda e, impulsionar o desenvolvimento socioeconômico. Além disso, o reconhecimento dos projetos levantados poderá servir como benchmarking para outros estados e investidores”, disse a FGV Energia, em nota.
O Atlas Solar foi entregue ao Estado do Amapá em agosto do ano passado, no município de Santana (AP), durante evento que marcou, também, o lançamento da pedra fundamental do “Instituto Margem Equatorial” – um centro avançado de tecnologia estratégica que vai desenvolver pesquisas, capacitação e outras soluções voltadas à transição energética e à biodiversidade da Amazônia.
Conduzidos pelo ISI-ER, em convênio com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), os projetos foram viabilizados por meio de articulação e investimentos frutos de emendas parlamentares do senador da República Davi Alcolumbre e do ex-senador Jean Paul Prates, com vistas ao desenvolvimento da Margem Equatorial brasileira.
Lançamento do Atlas em 2024, no Amapá, reuniu pesquisadores, idealizadores do projeto, lideranças empresariais e políticas
Impacto
“O Atlas Solar do Amapá é uma ferramenta que traz dados confiáveis, precisos, fundamentais para a tomada de decisão real, para o desenvolvimento local e da atividade. Receber essa avaliação positiva após um ano da entrega do produto sugere que estamos no caminho certo e que os trabalhos desenvolvidos no Instituto SENAI de Inovação colaboram com efeitos positivos, com consequências positivas para a efetividade da indústria e para a sociedade”, disse o diretor do SENAI-RN e do Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER), Rodrigo Mello.
“É um trabalho realmente rico em informações, que mostra que o Amapá está recheado de potencial para a geração de energia a partir da fonte solar, e que não é preciso retirar nenhuma árvore para instalar o potencial que o povo do Amapá precisa para a geração de energia”, acrescenta, fazendo referência a resultados do estudo que apontam a existência de vários ambientes ‘antropizados’ no estado – na definição do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), áreas onde há ocupação humana, com o exercício de atividades sociais, econômicas e culturais sobre o ambiente – que podem ser utilizados também para a geração de energia. “E lembrando que as energias renováveis não emitem poluentes, não emitem gases de efeito estufa, ou seja, estão associadas ao sentimento de sustentabilidade que o povo da floresta, o povo da região amazônica tem no subconsciente quando vai desenvolver atividades econômicas”, observa o diretor.
Rodrigo Mello, diretor do SENAI-RN e do ISI-ER: “O Atlas Solar do Amapá é uma ferramenta que traz dados confiáveis, precisos, fundamentais para a tomada de decisão real, para o desenvolvimento local e da atividade” – Na imagem, ele aparece durante o lançamento do Atlas, em 2024
Durante o evento de entrega do Atlas, em 2024, ele lembrou que o projeto de mapeamento do potencial da Margem Equatorial brasileira – em que o Atlas está inserido – surgiu em um contexto de busca de soluções para a instabilidade energética que o Amapá enfrenta e para que eventos como o que foi considerado o maior blecaute da história do país, registrado no estado em 2020, não se repitam.
No ano passado, em um cenário em que produção, transmissão e distribuição de energia no âmbito local ainda eram apontados como desafiadores e as faltas de energia eram constantes, o Amapá possuía capacidade instalada de 1,0 GW, o que equivalia a 0,49% da existente no Brasil.
Da capacidade total do estado, 96,74% eram oriundos de hidrelétricas e pequenas centrais hidroelétricas. Outros 2,85% eram produzidos em termelétricas e apenas 0,41% eram provenientes de usinas fotovoltaicas – as que geram energia solar.
Os dados do Atlas mostram uma capacidade instalável da ordem de 56 Gigawatts (GW), no Amapá, número que superava toda a capacidade existente das fontes eólica e solar centralizada juntas no Brasil.
A produção anual de energia com o uso de menos de 1% do território do estado chegaria a 87 GWh e seria capaz de ultrapassar em mais de duas vezes o consumo energético total registrado na região Norte.
Em um cenário de expansão da geração solar, os estudos sugerem um potencial de 426 TWh (terawatts-hora), aproximadamente 3 vezes a demanda de energia elétrica de São Paulo, a maior cidade do Brasil.
A pesquisadora líder do Laboratório de Energia Solar do ISI-ER, Samira Azevedo, afirma que “o desenvolvimento do Atlas Solar do estado é um marco sob vários aspectos”. “A possibilidade de realizar medições in loco numa região amazônica, ainda com pouca informação observada, trazer resultados para o público tanto acadêmico quanto geral e a divulgação do potencial que o Amapá dispõe para uso da fonte solar são os principais ganhos com esse trabalho”, destaca.
“Outro ponto importante é que os dados medidos servirão para comunidade científica de uma maneira ampla, contribuindo para o desenvolvimento de novas pesquisas. Para a nossa equipe, ter esse reconhecimento – ver o Atlas entendido como uma solução eficaz, que pode ser espelhada em outras regiões – é um grande incentivo para continuar trabalhando em pesquisa aplicada e de um modo geral”, complementa.
Pesquisadoras do ISI-ER, Samira Azevedo e Mariana Melo integram a equipe formada por cerca de 30 profissionais que participaram do levantamento e da análise dos dados, assim como da entrega da publicação – Na imagem, elas aparecem durante evento de apresentação oficial do Atlas em 2024, no Amapá
A cerimônia que oficializou os resultados do levantamento da FGV Energia foi realizada em Brasília, durante a abertura do I Congresso Brasileiro de Minas e Energia, promovido pelo FNSEM.
Ao menos 15 projetos e iniciativas avaliados como inovadores em transição energética e desenvolvimento sustentável, distribuídos em todas as regiões do Brasil, receberam reconhecimento.
Além do Atlas Solar do Amapá, foram selecionadas iniciativas nos estados do Amazonas, Bahia, Goiás, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Sergipe.
A EQUIPE ENVOLVIDA
A equipe do ISI-ER envolvida no levantamento e na análise de dados que deram origem ao Atlas do Amapá, e na entrega da publicação, foi composta por aproximadamente 30 pesquisadores e técnicos, entre mestres, doutores, graduados e técnicos nas áreas de meteorologia, geografia, computação, engenharia, instalação e manutenção dos equipamentos e designer. Além de Samira Azevedo, participaram os seguintes profissionais: Alan Rodrigues de Sousa, Alexia Monteiro Valentim, Alexandre Torres Silva dos Santos, Amanda Gomes Barboza, Ana Cleide Bezerra Amorim, Ana Katarina Oliveira Aragão, Ana Paula Rodrigues Feitosa Fazão, Andre Luiz de Oliveira Lira, Caio Graco Lopes Alves, Francisco de Assis da Silva Junior, Francisco Gabriel Ferreira de Lima, Gilvani Gomes de Carvalho, Jean Souza dos Reis, Josinaldo Euzebio de Souza Junior, Leonardo de Lima Oliveira, Luciano Andre Cruz Bezerra, Maeva Rênnua Silva Soares Araújo, Mariana Torres C. de Mello, Maria de Fátima Alves de Matos, Mateus Felipe, Mateus Ribeiro da Silva, Nicolas de Assis Bose, Plinio Jose de Oliveira, Priscila Pamplona Pereira Pinto, Rafael Dias Ribeiro de Almeida, Raniere Rodrigues Melo de Lima, Raniery Maciel de Almeida, Vanessa de Almeida Dantas, Vínicius de Azevedo Pereira. Também colaboraram com o projeto os pesquisadores Orleno Marques da Silva Júnior e Jefferson Erasmo de Souza Vilhena, do Instituto Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá.
Texto: Renata Moura
Fotos: Divulgação ISI-ER
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