Plataforma amplia oferta de dados públicos sobre energias e, ainda este ano, deverá agregar também dados sobre potencial e custos de produção de hidrogênio verde no estado
O governo do Rio Grande do Norte e o Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER) lançaram, nesta terça-feira (26), a “Plataforma de Energias do RN” (https://plataformadeenergiasrn.com.br/) – uma nova ferramenta pública, de acesso gratuito, que disponibiliza dados medidos e informações de estudos voltados ao setor energético do estado.
A expectativa, segundo o diretor do SENAI-RN e do ISI-ER, Rodrigo Mello, é que os recursos oferecidos contribuam para subsidiar decisões de investimento, atividades de ensino e pesquisa, consultorias e planejamentos relacionados.
Entre as possibilidades disponíveis ao público estão a visualização e o cruzamento de informações atualizadas sobre usinas eólicas e de energia solar, velocidade e direções do vento para diferentes áreas, estatísticas e dados sobre geração, infraestrutura e meio ambiente.
Números de potencial de produção e custos de hidrogênio verde – possível insumo para indústrias e combustíveis, além de meio de armazenamento de energia para exportações – serão incorporados ainda este ano, disse Mello, durante discurso no lançamento.
A distribuição territorial dos empreendimentos no estado, inclusive dos complexos eólicos em processo de licenciamento ambiental para o offshore (o mar), e plantas-piloto de hidrogênio em desenvolvimento, pode ser visualizada em um mapa interativo.
A Plataforma foi desenvolvida pelo ISI-ER por meio de convênio com a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico (Sedec-RN). As informações são oriundas de medições realizadas em campo e estudos conduzidos por pesquisadores e equipe técnica do Instituto, como o “Atlas Eólico e Solar do RN” e a “Avaliação de estratégias locacionais para o desenvolvimento de infraestruturas de transmissão de energia no suporte ao setor eólico offshore do estado do Rio Grande do Norte”, que aponta as 11 melhores áreas para o desenvolvimento de infraestruturas que irão escoar a energia eólica offshore do estado.
Rodrigo Mello, diretor do SENAI-RN e do ISI-ER: Expectativa é que recursos oferecidos contribuam para subsidiar decisões de investimento, atividades de ensino e pesquisa, consultorias e planejamentos relacionados
Competitividade
“O Rio Grande do Norte lidera o Brasil com capacidade eólica instalada acima dos 10 GW (Gigawatts), produz energia limpa, renovável e extremamente competitiva em termos de custos. Tem os melhores ventos do mundo e não podemos deixá-los passar. É preciso aproveitá-los”, disse o diretor.
“O estado também lidera o Brasil na geração de dados primários, que são dados medidos e não estimados, e na organização desses dados para disponibilização à sociedade. É informação para decisão, para estudos, para definição de investimentos. É um estado pequeno territorialmente que se tornou gigante nesse contexto”, destacou ainda.
O presidente da Comissão Temática de Energias Renováveis (COERE) da Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte (FIERN), Sérgio Azevedo, citou a Plataforma como “um avanço enorme, que democratiza informações”.
“A ferramenta traz o que há de mais rico no momento: dados atualizados, corretos, que com certeza servirão de subsídio para muitas decisões de investimento. É informação de qualidade que chega para um número muito maior de empresas”, destacou ele, representando o presidente da FIERN, Roberto Serquiz, no evento.
O lançamento foi realizado em Natal, na sede do governo, e também marcou o lançamento do primeiro volume de uma série de Cadernos Temáticos do Setor Energético Potiguar, elaborada pela Sedec, em parceria com a Fundação para o Desenvolvimento da Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado (Funcitern).
A governadora Fátima Bezerra avaliou a disponibilização de informações por meio da Plataforma e dos Cadernos Temáticos, como “um marco para o desenvolvimento econômico e energético potiguar”. “O lançamento da Plataforma e dos cadernos temáticos reforça o compromisso do Governo do RN com o desenvolvimento sustentável, a transição energética e a promoção de um ambiente favorável à atração de investimentos, com base em informação qualificada e planejamento técnico”, disse ela durante o evento.
A governadora Fátima Bezerra avaliou a disponibilização de informações por meio da Plataforma e de uma série de Cadernos Temáticos lançado ontem pelo governo, como “um marco para o desenvolvimento econômico e energético potiguar”. Na imagem, ela aparece no evento de lançamento com parte da equipe do ISI-ER
Raniere Rodrigues, pesquisador do ISI-ER e líder técnico da área de Geointeligência do Instituto, apresentou as funcionalidades, ferramentas e oportunidades de uso da Plataforma, destacando que a alimentação de informações será contínua, tornando a “Plataforma viva”.
A ferramenta, na descrição dele, permite olhar para o estado e entender qual é a disponibilidade de recurso energético, se há infraestrutura e tirar possíveis conclusões sobre aplicações desse recurso. “A Plataforma é uma ferramenta digital de diagnóstico. Não é só uma ferramenta para observar o dado, olhar a disponibilidade de recurso, mas sim a associação entre esse recurso, a potencialidade de aplicá-lo e possíveis mercados consumidores”.
No que diz respeito ao hidrogênio sustentável, a expectativa é incorporar novos dados com a mesma resolução dos disponíveis para energia eólica e solar. “Isso é inédito para o desenvolvimento de plataformas desse nível no Brasil. Temos outras ferramentas na literatura e no mercado que dão dados globais, potenciais globais, e agora, o que estamos trazendo, é a possibilidade de fazer esse tipo de avaliação inclusive em pequenas áreas. Então se você tem um tipo de mercado que precisa de uma quantidade menor de energia ou maior de energia, conseguirá enxergar desde as pequenas às grandes aplicações, conseguirá fazer cálculos sobre a quantidade de energia que eu posso transformar em hidrogênio, sintetizando, criando estatísticas, tendo uma ideia mais prática do quanto pode gerar desse hidrogênio em cada área dentro do estado”, detalha.
“Essas associações entre recurso e infraestrutura permitirão trazer aplicações e aumentam o potencial de atrair esses investimentos. Porque se você não reconhece o que tem, quanto tem e onde tem fica difícil tomar decisão”, disse o pesquisador.
Thiago Barral, analista de Pesquisa Energética da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e ex-presidente do órgão, ressaltou durante o lançamento que a Plataforma de Energias do RN “inaugura uma segunda fase fundamental do desenvolvimento do Rio Grande do Norte, que é conectar o imenso potencial e a oferta de energia que tem com as demandas existentes no mercado, num processo de industrialização sustentável e de reindustrialização do país”.
“Essa Plataforma tem claramente embutido esse olhar da demanda, das novas demandas e das oportunidades de usar esse potencial energético não apenas para exportar essa energia, mas para criar oportunidades de investimentos no estado”, observou ele.
“Aqueles que atuam no setor energético sabem que disponibilizar dados e informações de qualidade e confiáveis é reduzir o custo do investimento, melhorar a qualidade das políticas públicas, é investir em previsibilidade e transparência e é fundamental em um setor de infraestrutura que depende de uma visão de longo prazo e investimentos de longo prazo de maturação”, complementou.
Em discursos, presidente da COERE e diretor do SENAI-RN defendem soluções para o curtailment
Sérgio Azevedo, presidente da COERE, da FIERN, disse que setor de energia ‘agoniza’ com prejuízos que tem sofrido
O presidente da Comissão Temática de Energias Renováveis (COERE) da Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte (FIERN), Sérgio Azevedo, também chamou a atenção nesta terça-feira (26) para impactos comumente associados às energias renováveis, como empregos gerados na atividade, e para o que disse estar fazendo o setor “agonizar”: os curtailments do governo federal. O assunto foi abordado por ele e pelo diretor do SENAI-RN e do ISI-ER, Rodrigo Mello, durante discursos no lançamento da Plataforma de Energias do RN.
Definidos pelo Operador Nacional do Sistema (ONS) como redução, limitação ou cortes da geração eólica e solar quando a produção supera a capacidade do sistema de transmissão disponível ou a necessidade de consumo demandada pela sociedade, esses cortes estariam causando prejuízos bilionários às empresas e acirrando a busca por caminhos para dar vazão à energia que geram. “Os curtailments são um problema grave e a região que mais perde é o Nordeste e, mais especificamente, o estado do Rio Grande do Norte”, disse Azevedo.
O empresário defendeu melhorias na capacidade de transmissão da energia e uma legislação que favoreça a atração de data centers – como potenciais consumidores das energias renováveis do estado – entre os caminhos possíveis para diversificar a demanda na área e minimizar os impactos que a atividade tem sofrido.
O diretor do SENAI-RN e do Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER), Rodrigo Mello, também ressaltou a necessidade de criação de novos mercados, “gerando emprego no consumo e arrecadação local, com indústrias de hidrogênio, de aço verde e data centers, por exemplo”.
Em julho, o ISI-ER chegou a propor, junto com o Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia (CERNE), o desenvolvimento de um estudo que projete cenários para a instalação de data centers no Rio Grande do Norte e no Nordeste do Brasil.
“Os cortes de energia estão trazendo uma implicação imensa para os investimentos no RN e no Nordeste”, enfatizou a governadora Fátima Bezerra, durante o lançamento da Plataforma de Energias.
“Nós estamos em tratativas com a ABEEólica (Associação Brasileira de Energia Eólica e Novas Tecnologias) e com outras instituições, em diálogo com o Ministério de Minas e Energia, e não podemos perder de vista o leilão previsto para setembro (como forma de assegurar demanda para a atividade)”, acrescentou.
O Nordeste, segundo a governadora, também está de olho em uma Medida Provisória que estabelecerá diretrizes para investimentos em data centers no Brasil. A região, frisou Fátima, tem que ser olhada de forma especial nesse contexto.
“É uma Medida Provisória que vai ser decisiva para posicionar os estados do Nordeste no que diz respeito a atrair esses investimentos. Têm investidores no Rio Grande do Norte que já escolheram até o local para investir”.
Texto e fotos: Renata Moura
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