Provas da maior competição de profissões técnicas terminam com alegria e expectativa de medalhas

19/10/2017   09h27

Com danças árabes, muita gritaria e fotos de recordações, acabou, nesta quarta-feira (18), a maior competição de educação profissional do planeta, a WorldSkills, que este ano ocorreu em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos. Após quatro dias de provas práticas que reproduziram o dia a dia de 52 profissões técnicas, os mais de 1.200 competidores de 68 países agora aguardam para conhecer os campeões desta 44ª edição, que serão anunciados na quinta-feira (19), na cerimônia de premiação. A delegação de 56 jovens brasileiros, uma das favoritas, espera com ainda mais expectativa ver os frutos de anos de dedicação a rigoroso treinamento técnico, físico e comportamental. O Brasil é o atual campeão e quer se manter no pódio do mundial.

 

O time brasileiro fez ótimas provas na maioria das 50 ocupações em que participou neste torneio, realizado pela primeira vez no Oriente Médio. A instrutora do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), Josiane Veloso dos Santos, que treinou a competidora Thais Freitas de Lima, 21 anos, espera uma inédita medalha em Confeitaria para premiar todo o esforço da jovem de São Paulo durante o treinamento. Moradora de Caieiras, Thais saía de casa todos os dias às 6h para treinar na capital, distante 40 km, e só retornava à meia noite. Além disso, afastou-se durante nove meses da família – o pai é mestre de obras e a mãe é dona de casa – para se preparar também no centro de referência do SENAI em Brasília. “Desde o começo víamos que ela tinha um perfil diferenciado, que era uma lutadora, ela se dedica muito a tudo o que faz”, torce Josiane, que foi campeã nacional em Confeitaria em 2006.

 

A instrutora acredita que as dicas no treinamento feitas pelo mestre francês Christopher Puyodebat, expert em chocolate, poderão ajudar o Brasil a, finalmente, conquistar uma medalha na área. Ele esteve em Brasília e avaliou a preparação de Thais, sugeriu melhorias, especialmente em um ponto-chave: o sabor. Em edições anteriores, o Brasil sempre se destacava pela bela apresentação dos doces preparados durante a competição, mas pecava pelo que os avaliadores, com paladar europeu, consideravam excesso de açúcar. Em Abu Dhabi, Thais fez duas esculturas – uma em açúcar e outra em chocolate – com perfeição técnica inspiradas no tema “grafite, arte de rua”, além de produzir bombons, tortas e o savarin, uma sobremesa francesa. “Ela apresentou uma peça com riqueza de detalhes que chamou atenção até dos concorrentes”, descreve Josiane ao explicar seu otimismo. Para vencer, porém, a brasileira precisa superar fortes adversários da França, da Coreia e do Japão.

 

EXPECTATIVA – É grande também a expectativa de Wisley Silva Pereira, 21 anos, competidor de Refrigeração e Ar Condicionado, de levar mais uma medalha para o Brasil na área. Ele foi treinado por Willian Ramon de Souza, campeão em 2011, em Londres, e espera repetir o feito. “Estou muito satisfeito comigo porque consegui reproduzir, em cada módulo, exatamente o que treinei”, relata ele sobre os quatro dias de provas.

 

Mas houve também momentos de apreensão. O equipamento utilizado nas tarefas deu defeito e o avaliador atribuiu ao desempenho do brasileiro. Felizmente, o problema foi detectado e o tempo de prova, recuperado. “Esse foi o momento mais tenso. No geral, eu estava com um friozinho na barriga, mas sob controle”, relata. “Espero um bom resultado, mas o importante é que estou satisfeito com o trabalho que fiz.” China, Coreia do Sul e Malásia são os maiores adversários do Brasil na ocupação que deve ser decidida por mínima diferença de pontos entre os melhores competidores.

 

Após o fim de quatro dias, havia também preocupação no semblante de alguns competidores sobre as dificuldades enfrentadas nas provas. Rafael Dário de Oliveira Silva, 22 anos, competidor de Soldagem, vinha feliz e animado com seu desempenho, mas, nesta quarta-feira, terminou a competição preocupado. “Alguns problemas ocorreram no módulo da montagem de alumínio, mas vamos aguardar a pontuação para saber se há possibilidade de medalha”, conta.

RUSSOS – Os russos treinados pelo SENAI também esperam uma medalha inédita para o país nesta edição. Kazan, na Rússia, sediará a próxima edição da WorldSkills, em 2019, e, desde que a cidade foi escolhida, o governo russo tem investido em divulgar as carreiras técnicas e na preparação de seus competidores. Para isso, contratou a instituição brasileira a fim de preparar 37 jovens e instrutores em sete ocupações: Mecatrônica, Eletrônica, Web Design, Design Gráfico, Joalheria, Manufatura Integrada e Tecnologia da Moda. A delegação russa é a maior da edição de Abu Dhabi, com 58 participantes. O Brasil tem a segunda maior equipe.

 

Existem chances de medalhas para o russo Konstantin Larin, 21 anos, morador da cidade de Chelyabinsk, na região dos Montes Urais. Ele esteve em Brasília, durante um mês, em abril, para participar de treinamento oferecido pelo SENAI na área de Web Design. Em seguida, foi treinado, na Rússia, pelo analista de sistemas Marcelo Strehl, instrutor do SENAI de Alagoas, que acompanhou seu desempenho também em Abu Dhabi. “Do meu ponto de vista, ele se saiu muito bem na competição. Ele teve um desempenho acima da média, tem se destacado, e acredito que ele tem chance de estar entre os primeiros”, diz Strehl, que começou a treiná-lo em dezembro de 2016 e viu grande evolução na performance do jovem russo. “Ele melhorou muito, de forma significativa e isso está sendo mostrado aqui.”

 

Já o competidor russo de Eletrônica, Maxim Kadnikov, 22 anos, da cidade de Ekaterinburgo, estava apreensivo com o resultado. “Estou preocupado porque ainda não sei minha pontuação, amanhã veremos quem ganhou”, diz. Ele não esconde preocupação com a concorrência. “As provas foram bem complicadas, os competidores estavam muito bem na prova. Eu gostei muito de participar da competição, mas também foi difícil.” Mesmo com as adversidades, Maxim é otimista quando questionado sobre a possibilidade de estar entre os premiados da sua área:“É claro que eu acredito em uma medalha, porque eu me dediquei durante muito tempo”.

 

A contratação para treinar a delegação russa e os resultados positivos obtidos pela delegação brasileira na WorldSkills, ao longo dos anos, são uma demonstração da excelência da formação profissional oferecida pelo SENAI. A competição integra o sistema de avaliação dos cursos da instituição. As provas aplicadas têm como base as qualificações exigidas pelo mercado de trabalho e as atualizações tecnológicas que estão chegando às empresas. O desempenho dos alunos forma um conjunto de indicadores que ajuda o SENAI a avaliar a qualidade dos seus cursos e atualizar seus os currículos.

 

SOBRE A DISPUTA – A WorldSkills é a maior competição de educação profissional do mundo, realizada em um país diferente a cada dois anos. Desde domingo, competidores de todos os continentes foram desafiados a realizar tarefas que reproduzem o dia a dia de 52 profissões técnicas, como Automação Industrial, Panificação, Mecatrônica, Manutenção de Veículos Pesados, entre outras. Os competidores tiveram de executar os desafios com excelência e velocidade e, a cada dia de prova, somavam pontuação que poderá levar ao pódio. Medalhas de ouro, prata e bronze serão oferecidas aos jovens mais bem colocados em cada uma das modalidades. O competidor que obtém a maior nota entre todos é agraciado com o prêmio Albert Vidal, oferecido desde 1995, que homenageia o fundador da organização pela dedicação ao desenvolvimento de competências técnicas pelo mundo.

Agência CNI de Notícias

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